sábado, 26 de setembro de 2009

Pérola colhida da obra "Criminologia e Direito Criminal (Rui Barbosa)


Ao analisar o processo da condenação de Jesus Cristo, Rui Barbosa teceu os seguintes comentários:

"De Annás a Herodes o julgamento de Cristo é o espelho de todas as deserções da justiça corrompida pelas facções, pelos demagogos e pelos governos. A sua fraqueza, a sua inconsciência, a sua perversão moral crucificaram o Salvador, e continuam a crucificá-lo, ainda hoje, nos impérios e nas repúblicas, de cada vez que um tribunal sofisma, tergiversa, recua, abdica. Foi como agitador do povo e, subversor das instituições que se imolou Jesus. E, cada vez que há precisão de sacrificar um amigo do direito, um advogado da verdade, um protetor dos indefesos, um apóstolo de idéias generosas, um confessor da lei, um educador do povo, é esse, a ordem pública, o pretexto que renasce, para esculpir as transações dos juízes tíbios com o interesse do poder. Todos esses acreditam, como Pôncio, salvar-se, lavando as mãos do sangue, que vão derramar, do atentado que vão cometer. Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva, razão de Estado, interesse supremo, com quer que te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde."

Esse pensamento do nosso "Águia de Haia" ainda é atual? Poste o seu comentário.

domingo, 20 de setembro de 2009

Confiram o "release" da notícia sobre a absolvição do réu Edmilson Duarte de Castro, no Júri em que tive a honra de atuar na defesa

Juiz Luis Belchior

Em Tribunal do Júri realizado nesta segunda-feira (10), no auditório da Faculdade Santa Terezinha (CEST), no Anil, Edmilson Duarte de Castro foi absolvido da acusação de tentativa de homicídio.

A sessão faz parte do projeto “Júri Popular nos Cursos Jurídicos”, que visa à realização de sessões de júri popular nas faculdades de Direito de São Luís. O julgamento em questão enfrentou um contratempo logo em seu início: na chamada do corpo do júri foi constatada a ausência injustificada de sete jurados titulares e seis suplentes. O juiz Luiz Belchior, da 2ª Vara do Tribunal do Júri da capital, determinou novo sorteio para compor o Conselho de Sentença e os trabalhos prosseguiram normalmente. O magistrado arbitrou multa de dois salários mínimos a cada um dos faltosos. “Isto é um inconveniente muito grande justamente pela necessidade que a Vara tem de julgar um grande número de processos”, avalia. Esta não foi a primeira vez que um júri popular teve jurados faltosos dentro do projeto “Júri Popular...”. A sessão que julgaria o réu Cleiton Costa Soares, acusado de homicídio, marcada para o dia 05 de agosto, teve que ser adiada por esse motivo. Na ocasião, faltaram nove titulares e sete suplentes.

O JULGAMENTO – O Conselho de Sentença não acatou a tese do Ministério Público e absolveu Edmilson da acusação de tentar matar Gervásio Benedito Almed Choairy com golpes de faca, em crime que ocorreu no dia 06 de outubro de 1995, no bairro do São Cristóvão. O réu nunca confessou a autoria.

Funcionou na acusação o promotor Pedro Lino Silva Curvelo, e na defesa, Jonilton Santos Lemos Júnior. O juiz Luiz Belchior presidiu os trabalhos.

Adriana de Sá Assessoria de Comunicação da CGJ asscom_cgj@tjma.jus.br 3221-8527

Juiz Luis Belchior

Enfrentando o desafio...

A partir de hoje passarei a enfrentar o desafio de manter o este blog no ar.

Mesmo correndo risco de parecer enfadonho àqueles que já conhecem a minha história, sinto-me na obrigação de, neste primeiro "post", contar um pouco da minha ligação com a advocacia criminal.

Nos bancos da faculdade, é muito comum os colegas vaticinarem que os estudantes de Direito apaixonam-se pelo Direito Penal e casam-se com o Direito Civil. No meu caso (sempre existe uma exceção para confirmar a regra), apaixonei-me e casei-me com o Direito Penal, separei-me por algum tempo (quando por cinco anos ocupei o cargo de assessor de Desembargador junto ao TJMA), e, agora, reconciliei-me com ele, ao retornar à advocacia.

Neste início, sinto-me motivado para falar da minha aproximação com esse ramo do Direito, que revelou profissionais do quilate de Rui Barbosa, Evandro Lyns e Silva, Sobral Pinto e Evaristo de Moraes, a nível nacional, e Serra de Aquino e Jamenes Calado, a nível de Maranhão.

A primeira lembrança me remete às aulas de Direito Penal do reconhecido Prof. Alberto Tavares, no Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão. A forma maestral como o Prof. Alberto Tavares expunha os alicerces da disciplina a nós, alunos ávidos pelo conhecimento, a todos encantava, e chegava mesmo a extasiar a todos que o assistia.

Mais à frente, a lembrança mais viva que possuo consiste na primeira vez que a nossa turma foi levada para assistir um Júri, ao vivo, no Fórum Sarney Costa. Aí, o transcorrer de quase dez anos assalta-me a mente, roubando-me parte das lembranças. Mas recordo perfeitamente que o advogado da causa era o Dr. Juarez Santos, radicado na cidade de Rosário/MA, com o qual, anos depois, cheguei a fazer laços de amizade. Naquele dia, o Dr. Juarez parecia especialmente inspirado. O sangue guerreiro do advogado criminalista parecia corar-lhe as faces, e o suor encharcava-lhe a beca. A sua voz trovejante ecoava pelo recinto, como que a conjurar qualquer sentimento de repulsa que eventualmente recaísse sobre àquele semelhante que estava sentado no banco dos réus. O resultado desse Júri não chegamos a ver, pois tivemos que ir embora antes do seu término, mas a magia dos debates provocou uma marca indelével no meu espírito.

Algum tempo depois, o destino conduziu-me ao escritório do Dr. Donaldson dos Santos Castro, notável advogado criminalista da Capital maranhense, e antigo amigo do meu pai. Ao Dr. Donaldson devo muito do que aprendi da prática da advocacia em geral. Dono de um estilo de escrita elegante e de rico vocabulário, com o Dr. Donaldson vivenciei o dia-a-dia da advocacia, o atendimento aos parentes angustiados do preso, a rotina de acompanhamentos em Delegacias de Polícia, em audiências de instrução, os embates, e, acima de tudo, a observância da ética na condução da profissão.

O meu primeiro contato pessoal com o Júri deu-se de forma espontânea. Assistir da platéia grandes debates já tinha virado até mesmo programa de namoro com a minha esposa, na época, namorada. Ao invés de irmos ao cinema, íamos assistir Júris. Em uma dessas oportunidades, procurei o advogado que estava atuando durante e intervalo, e ofereci-me para acompanhá-lo, sem nenhum ônus financeiro, pois o meu interesse era aprender.

Pedido aceito, passei a acompanhar o Dr. Luis Carlos Costa Ferreira, grande tribuno, em alguns Júris. A essa altura, tinha acabado de graduar-me e de ser aprovado no exame de ordem, mais ainda não tinha recebido a carteira da OAB. Logo em seguida, organizou-se um grande mutirão de Júris em São Luís, onde comecei a fazer introduções de poucos minutos nos debates. Aos poucos esses minutos foram transformando-se em um quarto do tempo da defesa, metade do tempo da defesa, até que adquiri confiança para seguir sozinho o meu caminho, e assim procedi.

Aos vinte e seis anos de idade, era certamente o advogado mais jovem do Maranhão a atuar seriamente no Tribunal do Júri Popular, enfrentando os Promotores titulares das duas Varas do Júri da Capital, e alguns dos melhores Promotores de Júri do interior, tais como Juarez Medeiros e Cláudio Rebelo, com considerável grau de êxito.

As coisas aconteciam na profissão de maneira bastante satisfatória, até que em abril de 2004, recebi o convite para ser assessor jurídico da Desembargadora Anildes Cruz, magistrada recém promovida, e que ocuparia assento na 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Maranhão.

Aceitar a nomeação para o cargo foi a decisão mais difícil da minha vida no âmbito profissional, pois representaria um hiato na minha ascendente carreira como advogado criminalista, mas, por outro lado, havia a possibilidade de ter uma experiência bastante enriquecedora do ponto de vista do aprendizado. E assim o foi. De fato, trabalhar em processos das mais variadas matizes, e sob a orientação da Desembargadora Anildes, proporcionou-me uma “bagagem”muito grande.

Com o passar do tempo, vislumbrei a possibilidade de estudar visando ser aprovado em concurso público, pois na assessoria, tinha horários bem definidos, o que me permitia organizar a minha rotina.

O desejo de retornar à advocacia era crescente, por isso, dediquei-me a estudar para um cargo que me permitisse advogar, no caso, a advocacia pública.

Mergulhei de cabeça nesse projeto e, após um ano e meio, logrei êxito em ser aprovado para o cargo de Procurador do Estado do Piauí, em décimo lugar, em meio a dois mil e oitocentos candidatos vindos de todo o país. Tomei posse no dia 20 de abril deste ano, e, na PGE/PI, encontrei outro grande manancial para evoluir na minha formação, pois os colegas são do mais alto gabarito, e as questões por nós enfrentadas em nossa rotina são intrigantes. Destaco, especialmente, o fato de sermos obrigados a fazer sustentação oral em todos os nossos recursos que entram na pauta de julgamento nos órgão fracionários e no Tribunal Pleno do TJPI. Esse exercício semanal de oratória é bastante edificante.

E assim, chego ao estágio atual de minha vida. Recomeçando a advogar na área que é a minha grande paixão, advocacia criminal, e atuando como advogado público, defendendo, com afinco,os interesses do Estado do Piauí. Já fiz alguns Júris nesse meu retorno, alguns memoráveis! Mas deixarei para relatá-los em outra oportunidade.

Agradeço, desde logo, as contribuições das pessoas que acessarem este blog, e ressalto que estou à disposição para discutirmos assuntos de interesse da advocacia criminal.

Um forte abraço a todos.

Jonilton Lemos